Mulheres no mercado financeiro: como ter uma trajetória de sucesso em um setor predominantemente masculino?

Apesar de 4 milhões de mulheres terem entrado no mercado de trabalho brasileiro nos últimos quatro anos (dados do IBGE), a representatividade feminina ainda encontra percalços. Em alguns setores mais do que em outros.

Um deles, o mercado financeiro, onde a diferença entre a presença de homens e mulheres é sentida com clareza por quem está dentro. “As mulheres sempre foram minoria, principalmente no nível mais sênior,” conta Gisele Everett, managing director em um fundo de investimentos em Nova York e membro da rede de Líderes Estudar, programa de bolsas da Fundação Estudar.

Para muitas, a discrepância se mostra desde a formação, como é o caso de Luana Bichuetti, head da Leste Global Venture e também uma Líder Estudar, que viu menos colegas mulheres em sua graduação e MBA em Harvard – na universidade da Ivy League, as mulheres representavam apenas 30% da sala, destaca ela. No Brasil, a estudante Marina Luz conta que as mulheres eram menos de 20% da turma nos cursos de Engenharia e de Mercado Financeiro.

No cotidiano do trabalho, a desigualdade se traduz de inúmeras formas. Para Luana, principalmente em dois pontos: obstáculos relacionados ao avanço profissional e assédios, desde comentários inapropriados a avanços explícitos. “A primeira vez que passei por isso – era nova, no meu estágio – contei para minha chefe, a fim de que ela me ajudasse e me ensinasse a lidar com essas "situações”, relata, “a partir daí aprendi a lidar com isso”.

Por ser um ambiente com histórico predominantemente masculino, Marina acredita que há nas organizações em conscientizar, a fim de minimizar situações – como as descritas pela head da Leste Global Venture – que podem afastar ou limitar a presença de mulheres.

A fim de criar um panorama da realidade das mulheres no mercado financeiro, em diferentes fases de carreira, o Na Prática conversou com as três sobre seus principais desafios e aprendizados.

Mulheres no mercado financeiro: como é trabalhar em um seto predominantemente masculino?

  • Sendo o mercado financeiro um campo tradicionalmente dominado por homens, como você acredita que as mulheres podem conquistar espaço, inclusive de liderança?

Gisele – “Eu acho que, no geral, pessoas qualificadas dentro de todos os ‘grupos’ (sexo, etnia, faixa etária, etc.) têm algo a contribuir. O problema é quando uma organização é tão homogênea que ninguém traz uma perspectiva ou ideia diferente. Nesse sentido, trazer essa nova perspectiva (seja sobre produtos, estratégia, risco, gestão, o que for) é algo que as mulheres podem fazer, sem dúvida (ao invés de tentarem se encaixar nos padrões pré-estabelecidos).

Nas várias empresas com as quais trabalhei, observei que um grande obstáculo é que as mulheres são mais ‘humildes’, às vezes não fazem seu marketing pessoal de uma maneira agressiva, não tomam tanto crédito pelo bom trabalho que fazem, e não pedem para progredir de maneira direta.”

Luana – “Primeiro, acho importante a mulher se conscientizar sobre o porque o campo é tradicionalmente dominado por homens, o que são essas diferenças (entre homem e mulher), de maneira concreta, e porque elas existem. Essa consciência começou a surgir agora, e as ações explícitas estão começando a surgir agora também. E isso vai levar um tempo, mas acredito que vamos chegar num equilíbrio maior. Todos nós temos um papel importante nessa mudança cultural. O que eu busquei fazer foi tentar entender essas diferenças de modo objetivo para que pudesse ser mais efetiva no ambiente de trabalho e saber influenciar essa mudança de maneira construtiva.”

  • Que habilidades você desenvolveu durante a trajetória? E quais sente que ainda precisa desenvolver?

Gisele – “Em primeiro lugar investi muito nas minhas habilidades técnicas, para sempre tentar me destacar por mérito. Investi também em relacionamentos e no meu próprio estilo de comunicação; em Private Equity às vezes você está alinhada aos outros e às vezes não, então tem que poder negociar e navegar em situações difíceis sem perder relacionamentos de longo prazo. Finalmente, saber como influenciar a opinião dos outros é muito importante. Acho que a habilidade mais difícil que ainda estou desenvolvendo é a de avaliar talento. Quem devemos contratar para uma situação especifica, o que faz uma pessoa ser um bom CEO para uma certa empresa, etc.. Se essa arte pudesse virar ciência, eu adoraria.”

Luana – “Desenvolvi autoconhecimento, acho essencial. Já fiz coaching e foi muito importante pro meu processo de autoconhecimento. Quanto mais você se conhece, mais você sabe o que é importante pra você, e mais em paz você fica com as suas escolhas e com você mesmo, independente das pressões do mundo exterior.

Também conhecimento técnico: nunca fui uma especialista, sempre fui mais generalista. Mesmo assim, sempre busquei me aprimorar naquilo que fazia. E aprendi a aceitar também as áreas onde não sou tão forte, e a usar pessoas a minha volta pra ajudar a suprir minhas falhas. Além disso, sempre busco entender o fundamento das coisas (não adianta aprender uma fórmula sem entender o que esta por trás dela, por exemplo).

‘Soft Skills’, que considero serem muito importantes. Ajudam a ser mais efetivo, a ser um melhor líder, melhor colaborador, a ter mais resiliência. E, [em relação aos meus] interesses pessoais. O aprofundamento nas áreas que gosto além do trabalho também são muito importantes, pra manter a mente criativa.

Acho que sempre vou precisar me desenvolver, inclusive em todas as áreas que mencionei acima. O processo de aprendizado tem que ser constante.”

  • Você se inspira em alguma mulher?

Luana – “Inspiro-me na minha mãe… e ela nunca trabalhou no mercado de trabalho tradicional. Mas ela tem uma combinação de coisas que me inspiram muito. Ela é muito positiva e criativa, sempre olhando problemas como oportunidades. Ela é prática e bem agilizada. E ela também criou um ambiente familiar muito unido. Ela (e meu pai) sempre me ensinaram que posso ser quem eu quiser, e que com trabalho duro tudo é possível. E, mais importante, me ensinaram a importância de manter amigos e vida pessoal – e que quanto mais felizes estamos, melhor será nosso desempenho no trabalho.”

Marina – “Me inspiro muito na Maria Sílvia (CEO do Goldman Sachs, ex-presidente do BNDES). Ela consegue entregar excelentes resultados, ser extremamente inteligente e não perder a feminilidade.”

  • Alguma dica para outras que pensem em seguir carreira no setor?

Gisele – “Como em toda carreira, é difícil ter sucesso sem ter suporte em casa. Antes de escolher seu parceiro (ou parceira), é bom ter certeza que seus objetivos estão alinhados. ”

Luana – “Conheça-se e entenda porque você está buscando a carreira nesse setor. Seja curiosa. Aprofunde-se nas coisas, entenda os fundamentos. Trabalhe duro (vejo muita gente hoje querendo crescer na carreira e na vida sem querer trabalhar duro). Peça ajuda, você não precisa fazer tudo sozinha. Desenvolva suas fraquezas, mas mais do que isso, foque nas suas fortalezas e no que você gosta. Busque ter mentores e mentoras ao longo da sua carreira, e mantenha sempre sua relação com eles.”

Marina 
– “Se você quer de verdade, vá e faça da melhor forma. Por que aí o gênero é a última coisa que vai importar.”

O Ahead Coworking está situado na cidade de Apucarana Paraná e disponibiliza a locação de espaços compartilhados como sala de atendimento, reunião, auditório para cursos, palestras e workshops e estações rotativas de trabalho (workstation), além de serviços de escritório virtual. Fazemos parte do ecossistema de inovação da cidade, conectados as instituições de ensino superior e projetos de empreendedorismo e iniciativas de responsabilidade social.

Esse texto foi, originalmente, publicado pelo site Napratica.org.


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